Ciganos

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domingo, junho 03, 2007

Principais festas e rituais

O povo cigano dá grande importância aos rituais e a tudo o que se relaciona com a natureza e os elementos mágicos. Dentre estes rituais os que mais se destacam são:

- O banho da prosperidade:
Logo que o bebê nasce, ainda antes de completar uma semana de vida, é preparado o banho da prosperidade ou banho da sorte. Os preparativos são feitos pela mãe do bebê e demais mulheres da família, pois um bebê é sempre muito importante para o povo por representar a sua continuidade.
Após um rápido banho de higiene, o bebê é transferido para outra bacia com água pura, as jóias de família, pétalas de rosas brancas e algumas gotas de mel. A mãe banha o bebê, e as outras mulheres rezam orações herdadas dos antepassados. O clima é de bastante alegria. Depois do banho, todos dançam, cantam, comem e bebem desejando uma vida longa e próspera ao bebê.
A água pura simboliza a própria vida. Seu significado no banho é o de purificação, de limpeza natural do corpo físico e do corpo áurico e do livramento de faltas cármicas.
As jóias significam o desejo de que o bebê seja rico, próspero e bem-sucedido financeiramente.
As pétalas de rosas brancas simbolizam a paz, para que o bebê tenha uma vida bela, perfumada e bem-sucedida.
O mel é para trazer uma vida tranqüila, doce, livre de sofrimento e dores.
O significado geral do banho é que o bebê tenha uma vida rica e próspera, purificada, cheia de amor e paz sustentada por uma saúde perfeita.


- A Slava (festa do santo protetor)
Toda criança cigana possui um santo protetor escolhido por seus pais. Todos os anos, no dia do santo protetor, a família faz uma festa em homenagem e agradecimento ao santo. Cabe aos pais este compromisso e, quando morrem, o filho prossegue com a cerimônia anual. Esta festa é conhecida como slava.
A festa começa exatamente ao meio-dia, com os pais, a criança e os convidados reunidos em torno a uma mesa onde são servidas as comidas, bebidas, frutas e vinho.
No centro da mesa é colocada a imagem do santo protetor, uma vela ritual enfeitada de flores, um pão redondo e uma garrafa de vinho. Logo após acender a vela, o que dá início à festividade, o pai e a criança, frente a frente na cabeceira da mesa, começam a girar o pão recitando preces de agradecimento ao santo protetor. Um parente próximo então derrama um pouco de vinho em quatro partes do pão, que serão beijadas pelo pai e pelo filho. O pão em seguida é partido ao meio e recolocado no centro da mesa.
Às dezoito horas, os pais renovam os agradecimentos e reforçam os pedidos ao santo, apagando em seguida a vela com um pedaço de pão bento.


- Casamento:
Antigamente era comum que os compromissos de noivado fossem firmados entre as famílias quando os filhos eram ainda bem pequenos, muitas vezes antes mesmo de nascerem. Era bastante freqüente, hoje bem mais raro, que os noivos só se conhecessem no dia do casamento. Atualmente, este costume só é encontrado nas famílias mais tradicionais, pois como tantos outros, este também foi se perdendo à medida que o povo precisa se adaptar à cultura do local onde está.
Quando o compromisso do noivado é firmado entre as famílias, os pais do noivo compram dois punhais (o da noiva mais feminino e enfeitado com pedrarias, o do noivo, mais discreto) e uma garrafa do mais fino champanhe ou vinho da melhor qualidade e embrulham a garrafa num lenço de seda vermelho. No dia do noivado a bebida é servida para brindar os noivos e o punhal da noiva guardado neste mesmo lenço vermelho até o dia do casamento.
O noivo presenteia a noiva com um cordão de ouro. Este presente, denominado kepara, usado pela jovem simboliza publicamente o seu compromisso de noivado. Caso o noivado seja rompido, o kepara é retirado e devolvido à família do noivo, pois em geral é jóia de alto valor.
No dia do noivado os pais da noiva fixam o valor a ser pago como dote no dia do casamento pelos pais do noivo. A quantia é baseada nas qualidades da noiva, em sua beleza e em seus conhecimentos e habilidades para bem administrar o futuro lar. Após o casamento, o jovem casal passa a morar na casa dos pais do noivo para que a noiva se adapte aos gostos e hábitos do marido e aprenda a lidar com os afazeres de esposa. Deverá obedecer aos sogros, além da fiel obediência ao marido, velando por todos nos casos de doença e por ocasião da velhice. Caso o jovem seja o filho caçula, permanecerá vivendo com a esposa na casa dos pais até a morte desses, pois ele será o maior beneficiário dos bens paternos, herdando a casa em que estiver morando e todos os bens nela existentes. O restante do patrimônio dos pais será dividido entre os outros filhos.
A festa do casamento pode se estender por vários dias. Cabe à família do noivo arcar com todas as despesas. Quanto mais rica for a festa, maior é o orgulho do pai cigano.
O vestido da noiva (também custeado pelo pai do noivo) deve ser vermelho, e confeccionado com tecidos caros como seda, brocado e rendas, bordado com fios de ouro. A noiva deve estar usando as principais jóias de família e as presenteadas pelo pai do noivo, que devem exceder em valor e beleza às primeiras. Prendendo parte dos cabelos a noiva usa o lenço vermelho, também rico e com aplicações em ouro, lenço este significativo de seu compromisso de casamento. A roupa do noivo também tem o vermelho como cor principal, podendo usar o branco como cor complementar. Ele ostenta cordões de ouro no pescoço e sobre a faixa vermelha de seda enrolada na cintura correntes com moedas de ouro. Os pais dos noivos e os convidados usam suas melhores roupas e jóias, o que faz deste evento o mais rico e o melhor indicativo financeiro dos clãs.
A cerimônia é oficializada pelo patriarca do clã (os ciganos não possuem sacerdotes ou equivalentes), investido de autoridade para tal.
É armado um altar próximo à tenda principal, ornamentado com flores, principalmente rosas vermelhas e brancas, e sobre ele colocada a imagem de Santa Sara e do santo protetor. Velas de várias cores ardem ao lado de taças com água e vinho, significando a luz, a vida e a alegria. São acesos também vários incensos para purificar o ar de qualquer energia negativa. Peças de ouro e jóias permanecem em um pequeno baú sobre o altar, expressando o desejo de que os noivos sejam prósperos e não conheçam necessidades financeiras. Frutas, doces e trigo completam a decoração, traduzindo os votos de fartura para o casal e que nunca falte alimentos em sua tenda.
Entre rezas e invocações, o oficiante segura os punhais trocados por ocasião do noivado, sendo o lenço vermelho de seda atado aos punhos dos noivos por um parente próximo. Através do lenço, o punhal da noiva faz um pequeno corte no punho do noivo e vice-versa. Quando o sangue dos noivos se mistura, eles estão unidos para sempre. Desatado o lenço, os punhais são guardados juntos no mesmo lenço vermelho pelo casal, num local reservado e secreto da tenda para que haja união e entendimento enquanto durarem suas vidas.
Após o ato com os punhais, é oferecido aos noivos um pequeno pedaço de pão com um pouco de sal para que comam, simbolizando o alimento e o sabor. O pão, o alimento, a união duradoura do casal, e o sal, o sabor, a capacidade de superarem todas as agruras e dissabores pelo amor de um pelo outro. Enquanto o pão nutrir e o sal tiver sabor, o casal permanecerá unido.
Finalmente, chega o final da cerimônia. Uma taça de cristal com vinho é oferecida aos noivos. Primeiro bebe a noiva e depois o noivo, que em seguida atira a taça ao chão para que se quebre. A taça deve ser do mais fino cristal para simbolizar a vida transparente do casal, onde o amor deve imperar acima de tudo. O vinho traduz a alegria e a felicidade, que envolve os jovens e a quebra da taça o desejo de que nada abale a união do casal, que deve ser perfeita, harmoniosa e forte apesar de toda a fragilidade de uma união. Caso a taça não quebre, isto traduz um sinal de um agouro ou que a união poderá se desfazer; neste caso, o noivo pisa fortemente na taça para esmigalhá-la, expressando e dizendo publicamente que ele e sua mulher estarão juntos para sempre apesar de qualquer contratempo. O simbolismo do cristal é ainda mais rico, pois seus pedaços não podem ser rejuntados, ou colados, pois ficam estilhaçados, não oferecendo a menor possibilidade de recuperação. Assim deve ser o casal cigano: lindo, transparente, firme e sólido, apesar da grande fragilidade humana e seus vínculos.
Depois da cerimônia é realizado ainda o teste da virgindade pelas mulheres mais importantes do clã. Quando a jovem esposa passa pelo teste, verificando-se sua virgindade, a festa propriamente dita pode começar.
Fogueiras são acesas e ao seu redor os ciganos cantam, dançam e comemoram as bodas. E a festa dura enquanto houver comida.